Trabalho apresentado na Disciplina:
IF233
– prevenção e controle de incêndios florestais- UFRRJ
Desenvolvido por:
GERHARD VALKINIR
CABREIRA
JOÃO FLÁVIO COSTA DOS SANTOS
INTRODUÇÃO
O Pantanal trata-se de uma região complexa, dividida
em muitas sub-regiões com grandes variações nos sistemas clima, solo, água,
planta e animais (RODRIGUES, 2002). O mosaico de habitats é responsável pela
riqueza da biota aquática e terrestre, fazendo do Pantanal a planície inundável
mais rica em espécies de aves do mundo e com as maiores populações conhecidas
de grandes mamíferos ameaçados, como o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e a onça-pintada (Panthera onca) (HARRIS et al., 2005).
De acordo com Pott (2007) a presença do fogo no
Pantanal é anterior à do gado e do homem, provavelmente menos freqüente, mas
muito mais severo do que atualmente, devido ao acúmulo de biomassa de gramíneas
não pastadas. Os incêndios
florestais e as queimadas provocam problemas de saúde à população, são os
maiores responsáveis pela emissão de carbono para atmosfera além de uma grande
ameaça à fauna e flora (PEREIRA e YULE, 2010).
No Brasil, os incêndios
que ocorrem na região do Pantanal estão entre os mais difíceis de serem extintos.
O terreno alagado dificulta o deslocamento das equipes de combate e, além
disso, há presença de frentes subterrâneas. Como medidas de combate adota-se
helicópteros para lançar água nas frentes mais intensas e transportar
brigadistas (PREVFOGO/IBAMA, 2014).
O objetivo deste
trabalho foi realizar uma breve revisão sobre os incêndios no Pantanal e
levantar os focos ocorridos no bioma pelo período de 1 ano.
DESENVOLVIMENTO
O bioma Pantanal é uma
das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. Este bioma é o de menor
extensão, ocupando 1,76% do território brasileiro, com área aproximada de
150.355 km². O pantanal é uma planície aluvial influenciada por rios que
drenam a bacia do Alto Paraguai. Três importantes biomas brasileiros exercem
influência sobre o pantanal: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica (MMA, 2014).
Quanto a preservação
apenas 4,4% do bioma encontra-se em unidades de conservação, mas 86,77% de sua cobertura
vegetal nativa esta mantida. A maior parte dos 11,54% do bioma alterados
por ação antrópica, é utilizada para a criação extensiva de gado em pastos
plantados (MMA, 2014). A pecuária de corte na região do Pantanal cuja origem
remonta ao século XVIII, é a principal atividade econômica (CRISPIM et al.,
2009). Atualmente o desmatamento dentro da planície pantaneira é um dos
problemas mais críticos: cerca de 40% das florestas e savanas foram removidas
para a formação de pastagens, freqüentemente com a introdução de gramíneas
exóticas (HARRIS, et al, 2005).
Pereira e Yule, (2010)
destacam que o uso do fogo para manejo de pastagens é uma pratica comum no
estado de Mato Grosso do Sul principalmente no período de julho a outubro. Este
período coincide com a estiagem o que facilita a ocorrência dos incêndios
florestais. Na parte arenosa do Pantanal o fogo é aplicado com maior
frequência, devido à grande quantidade de espécies invasoras e facilidade de
queima (COUTO et al., 2006). Um fogo não controlado nestas áreas pode
alastrar-se para as áreas de cerrado e cerradão, causando grandes incêndios no
Pantanal. A disseminação do fogo depende das propriedades do material
combustível, o qual envolve o tipo de fitomassa, sua condição e umidade, dentre
as quais, a umidade é o fator mais importante no controle de incêndios
(DENNISON et al., 2009).
De acordo com Couto et
al, (2006) a exemplo do que ocorre em todo o Brasil, as informações a respeito
de queimadas controladas no Pantanal são escassas. A Embrapa Pantanal vem
desenvolvendo estudos ainda incipientes sobre o uso programado do fogo em área
de “caronal”; (predominância de Elyonurus
muticus), de “capim-fura-bucho” (Paspalum
carinatum e Paspalum stellatum),
de “capim-rabo-de-burro” e rabo-de-lobo (Andropogon
bicornis e Andropogon hypogynus)
e cerrados ralos; através da avaliação de seus efeitos sobre a vegetação
herbácea e o solo, com objetivo de determinar as alterações iniciais em
propriedades químicas do solo causadas pela passagem do fogo (Fernandes e
Fernandes, 2002).
As fitofisionomias
campo limpo, campo cerrado e campo sujo são as mais utilizadas para as
atividades de pastejo. No entanto, no campo sujo predominam as macegas e gramíneas
cespitosa o que é indesejável para pastejo (SANTOS et al., 2005). Com a
finalidade de estimular o pastejo dessas áreas, uma prática estimulada na
região é o uso da queima controlada, que segundo Rodrigues et al, (2002) funciona
também como prevenção de incêndios. No entanto,
as queimadas utilizadas para renovar pastagens e controlar pragas do
gado como os carrapatos estão expandindo-se na região e freqüentemente levam à
perda de controle do fogo, provocando incêndios (HARRIS, 2005).
No estado de Mato
Grosso, os constantes incêndios vêm cada vez mais causando preocupações em
relação à conservação da biodiversidade, principalmente na Reserva Particular
de Patrimônio Natural (RPPN) do SESC Pantanal, onde as áreas de pastagens foram
substituídas por vegetações naturais, aumentando a quantidade de biomassa
inflamável. Nesse cenário, favorável ao fogo, não surpreende que nas áreas
vizinhas à Reserva, onde se realizam práticas agrícolas remanescentes, tais
como a queima do restolho, sejam responsáveis por um grande número de incêndios
(COUTO et al., 2006).
Apesar de a ocorrência
de incêndios ser quase sempre o resultado da conjugação de numerosas variáveis,
na região da RPPN do SESC Pantanal é aparente a influência estreita que o clima
e as atividades humanas têm nesse fenômeno. O período de seca é responsável
pelo estresse da vegetação, durante o qual a umidade e o vigor da cobertura
vegetal diminuem drasticamente e, consequentemente, o seu grau de
inflamabilidade aumenta. No que diz respeito às atividades humanas, a situação
é substancialmente mais complexa (COUTO et al., 2006).
Efeitos do fogo na flora do Pantanal são
controversos, isso depende do tipo de vegetação, se campo seco ou úmido,
cerrado ou floresta. Há um número elevado de espécies tolerantes a fogo no
Pantanal, comparado com as danificadas (POTT, 2007).
O fogo interfere na diversidade de plantas, causando
cerradização, isto é modificação da estrutura floristica para uma semelhante a
do cerrado, pelo aumento de espécies de cerrado, com adaptações ao fogo, tais
como casca grossa e propagação vegetativa (POTT et al. 2006), por
exemplo Anacardium humile, Andira spp., Copaifera martii, Curatella
americana, e diminuição de espécies sensíveis, sem ritidoma corticoso, como
Genipa americana (POTT e POTT, 1994). Algumas árvores são sensíveis ao
fogo somente na fase jovem, até os caules desenvolvem um tecido de isolamento
térmico, caso de Vochysia divergens (POTT , 2006).
SITUAÇÃO ATUAL
DE FOCOS DE INCÊNDIO, PREVENÇÃO E CONTROLE NO BIOMA PANTANAL
Muitas são as
ocorrências de incêndios na região, e frequentes são as notícias de focos nesse
Bioma. Em 2010, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), passou a
ampliar o sistema de brigadas de incêndios no país. Dessa forma, o estado do
Mato Grosso do Sul, em passou a contar
com brigadas de incêndio em mais dois municípios, além dos que já existiam.
Miranda (oeste do pantanal) e Jateí, passaram a contar com unidades do
PrevFogo. Miranda foi incluída por ficar na região pantaneira que detém a maioria
dos focos de calor e incêndios florestais registrados nos últimos anos no
Estado.
Já o município de Jateí
foi incluído por responder a uma série de critérios do Prevfogo: toda a região
no entorno do município têm remanescentes importantes de mata nativa, apresenta
focos de calor com possibilidade de incêndios florestais e também nesta região
existem unidades de conservação, como o Parque Estadual das Várzeas do
Ivinhema.
Em 2009 as brigadas do
Prevfogo combateram e apagaram 50 incêndios florestais no Pantanal. Foram
registrados 2.897 focos de calor naquele ano no Estado. As brigadas do Prevfogo
nesses dois municípios passaram atuar durante todo o período de estiagem, não
sendo permanente. Já em Corumbá e Porto Murtinho, as prefeituras locais
decidiram tornar permanente a atuação dos batalhões da brigada do Ibama nesses
municípios.
Em março de 2012, um
incêndio consumiu a região pantaneira e preocupou as autoridades em MS. O fogo
iniciou na região da Bolívia, a 20 quilômetros da fronteira com Brasil. Esse
incêndio consumiu a vegetação do Pantanal na região da Bolívia, na fronteira
com o Brasil. De acordo com as informações do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), o fogo começou, e com pouco mais de três dias estava a menos
de 20 km de Corumbá, a 444 km de Campo Grande. Apesar da distância, a fumaça já
encobria o município brasileiro.
Na região de Corumbá,
as queimadas se tornaram cada vez mais frequentes na região. Levantamento do
Inpe mostrou que, somente no mês de março de 2012, foram 156 focos de
incêndios, o que colocava a cidade na liderança nacional no ranking de
queimadas.
Em agosto de 2012, as brigadas do Ibama/Prevfogo e o Corpo
de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul passaram o mês combatendo as
principais frentes de incêndio florestais que atingiam a região do
pantanal sul-mato-grossense, destacando o município de Curumbá; recordista
em focos de calor no Brasil, com 1698 focos registrados até 09 de agosto
de 2012 no ano. Os incêndios na região do Pantanal estão entre os mais difíceis
de serem extintos, devido à presença de frentes subterrâneas e
à dificuldade de deslocamento em terreno alagado.
Em 20 de março de 2013, durante reunião entre
integrantes do Poder Executivo Municipal e parceiros, no Centro de Convenções
Miguel Goméz, foi debatida a ativação do Comitê Municipal de Prevenção e
Combate a Incêndios Florestais no Pantanal de Corumbá. A ideia era envolver os
mais diferentes segmentos e definir responsabilidades para a implementação e
execução de políticas públicas para prevenção, monitoramento, controle e
combate a incêndios florestais que venham a ocorrer na região.
LEVANTAMENTO
DOS FOCOS
Para o levantamento dos
focos de calor foi utilizada a plataforma “Queimadas” do, Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). Esta plataforma inclui o monitoramento operacional
de focos de queimadas e de incêndios florestais detectados por satélites, e o
cálculo e previsão do risco de fogo da vegetação. Para o bioma Pantanal foram
observados os dados de focos de incêndios no período do dia 01 de dezembro de
2013 até o dia 02 de dezembro de 2014. Ao todo, foram identificados 9.492
focos, sendo 4.050 em Mato Grosso e 5.442 em Mato Grosso do Sul.
Considerando a distribuição dos focos de incêndios, ate o momento no ano
de 2014 em todos os biomas brasileiros (Figura 1), a Amazônia destaca-se, com
44,4% dos focos de incêndio seguido pelo Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e
finalmente o Pantanal com apenas 1% do número de focos no país.
Figura 1: Distribuição dos focos
de incêndio nos biomas brasileiros no ano de 2014 (Fonte: INPE, 2014).
Mesmo não tendo
um número representativo no cenário nacional, os números do bioma Pantanal são preocupantes.
Através da Figura 2A é possível perceber que a distribuição dos focos ocorre por
toda a extensão desse Bioma o que exerce impactos diretos na preservação. Mais
preocupante ainda, são aqueles focos observados nas unidades de conservação
presentes no Pantanal (Figura 2B).
Figura 2: Distribuição dos focos
de incêndio nos pantanal (A) e nas unidades de conservação (B) no período de 01 de dezembro de 2013 até o dia 02 de dezembro de 2014 (Fonte: INPE, 2014).
Saber da localização
desses focos de incêndios nas Unidades de Conservação permite um zoneamento e
planejamento das regiões prioritárias e quais UCs e municípios necessitarão de
maiores investimentos para a prevenção e controle de incêndios florestais.
Também é possível destacar quais motivos estão levando a esses focos, já que em
muitos desses casos, há a presença de comunidades ao entorno dessas UCs.
Na Figura 3 é
apresentada a distribuição mensal dos focos levantados no período de estudo sendo
possível destacar os meses mais críticos. Percebe-se que o maior número de
focos ocorreu nos últimos meses do ano, intensificando-se a partir de agosto.
No período observado, os meses de maior incidência de focos foram em Dezembro e
Outubro. Este também é o período de estiagem e com menor umidade relativa. É importante
conhecer estas informações, para se saber em que época deverão ser tomadas as
ações de prevenção desses focos, minimizando os impactos das queimadas, que
acabam por afetar na dinâmica desse Bioma. Essas mesmas precauções poderão
amenizar os riscos às populações e a degradação ambiental.
Figura 3: Distribuição dos focos de incêndios no período de 01 de dezembro
de 2013 até o dia 02 de dezembro de 2014 mensalmente, no Bioma Pantanal. Os
números acima das barras representam o número de focos naquele mês.
Figura 4: Histograma da média dos totais mensais precipitados na
estação pluviométrica São João (Média de 1997 à 2006). Fonte: Marcuzzo et al., (2010).
Na figura 4, é
apresentada a distribuição de chuvas durante o ano, destacando os meses de
junho, julho e agosto como os meses do período seco, e os meses do verão com as
maiores precipitações, sendo similares aos meses de maiores focos de incêndios.
Entretanto destaca-se que existe um atraso de aproximadamente quatro meses
entre o pico da cheia do norte e do sul do Pantanal (HARRIS et al., 2005), o
que faz com que a estação seca vigore na porção norte do Pantanal enquanto o
nível das águas atinge seu pico na porção sul. Os níveis da água no norte, em
qualquer estação, são extremamente variáveis, subindo e descendo em resposta
direta ao volume de chuvas. Os níveis da água no sul, por outro lado, aumentam
e diminuem mais suavemente ao longo do ano, devido à retenção natural da inundação
que amortece as flutuações causadas pelas chuvas intensas (HARRIS et al., 2005).
O Pantanal também é caracterizado por uma variação plurianual da intensidade da
inundação, alternando anos de elevada inundação com anos mais secos (HRRIS et
al.., 2005).
CONCLUSÔES
Os incêndios florestais no pantanal ocorrem em
grande número e concentram-se no período de estiagem. A vegetação de gramíneas é propícia à
pastagem e para o manejo destas, os proprietários utilizam a queima. Muitas vezes
a queima foge do controle e se transforma em grandes incêndios florestais. É
necessário elaborar um programa de orientação e conscientização dos
proprietários rurais para diminuir a ocorrência de incêndios e aumentar a
conservação dos recursos naturais.
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