terça-feira, 14 de abril de 2015

LEVANTAMENTO DOS FOCOS DE INCÊNDIOS NO BIOMA PANTANAL



Trabalho apresentado na Disciplina:
IF233 – prevenção e controle de incêndios florestais- UFRRJ
Desenvolvido por:

GERHARD VALKINIR CABREIRA
JOÃO FLÁVIO COSTA DOS SANTOS
INTRODUÇÃO
O Pantanal trata-se de uma região complexa, dividida em muitas sub-regiões com grandes variações nos sistemas clima, solo, água, planta e animais (RODRIGUES, 2002). O mosaico de habitats é responsável pela riqueza da biota aquática e terrestre, fazendo do Pantanal a planície inundável mais rica em espécies de aves do mundo e com as maiores populações conhecidas de grandes mamíferos ameaçados, como o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e a onça-pintada (Panthera onca) (HARRIS et al., 2005).
De acordo com Pott (2007) a presença do fogo no Pantanal é anterior à do gado e do homem, provavelmente menos freqüente, mas muito mais severo do que atualmente, devido ao acúmulo de biomassa de gramíneas não pastadas. Os incêndios florestais e as queimadas provocam problemas de saúde à população, são os maiores responsáveis pela emissão de carbono para atmosfera além de uma grande ameaça à fauna e flora (PEREIRA e YULE, 2010).
No Brasil, os incêndios que ocorrem na região do Pantanal estão entre os mais difíceis de serem extintos. O terreno alagado dificulta o deslocamento das equipes de combate e, além disso, há presença de frentes subterrâneas. Como medidas de combate adota-se helicópteros para lançar água nas frentes mais intensas e transportar brigadistas (PREVFOGO/IBAMA, 2014).
O objetivo deste trabalho foi realizar uma breve revisão sobre os incêndios no Pantanal e levantar os focos ocorridos no bioma pelo período de 1 ano.

DESENVOLVIMENTO
O bioma Pantanal é uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. Este bioma é o de menor extensão, ocupando 1,76% do território brasileiro, com área aproximada de 150.355  km². O pantanal é uma planície aluvial influenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. Três importantes biomas brasileiros exercem influência sobre o pantanal: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica (MMA, 2014).
Quanto a preservação apenas 4,4% do bioma encontra-se em unidades de conservação, mas 86,77% de sua cobertura vegetal nativa esta mantida. A maior parte dos 11,54% do bioma alterados por ação antrópica, é utilizada para a criação extensiva de gado em pastos plantados (MMA, 2014). A pecuária de corte na região do Pantanal cuja origem remonta ao século XVIII, é a principal atividade econômica (CRISPIM et al., 2009). Atualmente o desmatamento dentro da planície pantaneira é um dos problemas mais críticos: cerca de 40% das florestas e savanas foram removidas para a formação de pastagens, freqüentemente com a introdução de gramíneas exóticas (HARRIS, et al, 2005).
Pereira e Yule, (2010) destacam que o uso do fogo para manejo de pastagens é uma pratica comum no estado de Mato Grosso do Sul principalmente no período de julho a outubro. Este período coincide com a estiagem o que facilita a ocorrência dos incêndios florestais. Na parte arenosa do Pantanal o fogo é aplicado com maior frequência, devido à grande quantidade de espécies invasoras e facilidade de queima (COUTO et al., 2006). Um fogo não controlado nestas áreas pode alastrar-se para as áreas de cerrado e cerradão, causando grandes incêndios no Pantanal. A disseminação do fogo depende das propriedades do material combustível, o qual envolve o tipo de fitomassa, sua condição e umidade, dentre as quais, a umidade é o fator mais importante no controle de incêndios (DENNISON et al., 2009).
De acordo com Couto et al, (2006) a exemplo do que ocorre em todo o Brasil, as informações a respeito de queimadas controladas no Pantanal são escassas. A Embrapa Pantanal vem desenvolvendo estudos ainda incipientes sobre o uso programado do fogo em área de “caronal”; (predominância de Elyonurus muticus), de “capim-fura-bucho” (Paspalum carinatum e Paspalum stellatum), de “capim-rabo-de-burro” e rabo-de-lobo (Andropogon bicornis e Andropogon hypogynus) e cerrados ralos; através da avaliação de seus efeitos sobre a vegetação herbácea e o solo, com objetivo de determinar as alterações iniciais em propriedades químicas do solo causadas pela passagem do fogo (Fernandes e Fernandes, 2002).
As fitofisionomias campo limpo, campo cerrado e campo sujo são as mais utilizadas para as atividades de pastejo. No entanto, no campo sujo predominam as macegas e gramíneas cespitosa o que é indesejável para pastejo (SANTOS et al., 2005). Com a finalidade de estimular o pastejo dessas áreas, uma prática estimulada na região é o uso da queima controlada, que segundo Rodrigues et al, (2002) funciona também como prevenção de incêndios. No entanto,  as queimadas utilizadas para renovar pastagens e controlar pragas do gado como os carrapatos estão expandindo-se na região e freqüentemente levam à perda de controle do fogo, provocando incêndios (HARRIS, 2005).
No estado de Mato Grosso, os constantes incêndios vêm cada vez mais causando preocupações em relação à conservação da biodiversidade, principalmente na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) do SESC Pantanal, onde as áreas de pastagens foram substituídas por vegetações naturais, aumentando a quantidade de biomassa inflamável. Nesse cenário, favorável ao fogo, não surpreende que nas áreas vizinhas à Reserva, onde se realizam práticas agrícolas remanescentes, tais como a queima do restolho, sejam responsáveis por um grande número de incêndios (COUTO et al., 2006).
Apesar de a ocorrência de incêndios ser quase sempre o resultado da conjugação de numerosas variáveis, na região da RPPN do SESC Pantanal é aparente a influência estreita que o clima e as atividades humanas têm nesse fenômeno. O período de seca é responsável pelo estresse da vegetação, durante o qual a umidade e o vigor da cobertura vegetal diminuem drasticamente e, consequentemente, o seu grau de inflamabilidade aumenta. No que diz respeito às atividades humanas, a situação é substancialmente mais complexa (COUTO et al., 2006).
Efeitos do fogo na flora do Pantanal são controversos, isso depende do tipo de vegetação, se campo seco ou úmido, cerrado ou floresta. Há um número elevado de espécies tolerantes a fogo no Pantanal, comparado com as danificadas (POTT, 2007).
O fogo interfere na diversidade de plantas, causando cerradização, isto é modificação da estrutura floristica para uma semelhante a do cerrado, pelo aumento de espécies de cerrado, com adaptações ao fogo, tais como casca grossa e propagação vegetativa (POTT et al. 2006), por exemplo Anacardium humile, Andira spp., Copaifera martii, Curatella americana, e diminuição de espécies sensíveis, sem ritidoma corticoso, como Genipa americana (POTT e POTT, 1994). Algumas árvores são sensíveis ao fogo somente na fase jovem, até os caules desenvolvem um tecido de isolamento térmico, caso de Vochysia divergens (POTT , 2006).
SITUAÇÃO ATUAL DE FOCOS DE INCÊNDIO, PREVENÇÃO E CONTROLE NO BIOMA PANTANAL

Muitas são as ocorrências de incêndios na região, e frequentes são as notícias de focos nesse Bioma. Em 2010, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), passou a ampliar o sistema de brigadas de incêndios no país. Dessa forma, o estado do Mato Grosso do Sul, em  passou a contar com brigadas de incêndio em mais dois municípios, além dos que já existiam. Miranda (oeste do pantanal) e Jateí, passaram a contar com unidades do PrevFogo. Miranda foi incluída por ficar na região pantaneira que detém a maioria dos focos de calor e incêndios florestais registrados nos últimos anos no Estado.
Já o município de Jateí foi incluído por responder a uma série de critérios do Prevfogo: toda a região no entorno do município têm remanescentes importantes de mata nativa, apresenta focos de calor com possibilidade de incêndios florestais e também nesta região existem unidades de conservação, como o Parque Estadual das Várzeas do Ivinhema.
Em 2009 as brigadas do Prevfogo combateram e apagaram 50 incêndios florestais no Pantanal. Foram registrados 2.897 focos de calor naquele ano no Estado. As brigadas do Prevfogo nesses dois municípios passaram atuar durante todo o período de estiagem, não sendo permanente. Já em Corumbá e Porto Murtinho, as prefeituras locais decidiram tornar permanente a atuação dos batalhões da brigada do Ibama nesses municípios.
Em março de 2012, um incêndio consumiu a região pantaneira e preocupou as autoridades em MS. O fogo iniciou na região da Bolívia, a 20 quilômetros da fronteira com Brasil. Esse incêndio consumiu a vegetação do Pantanal na região da Bolívia, na fronteira com o Brasil. De acordo com as informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fogo começou, e com pouco mais de três dias estava a menos de 20 km de Corumbá, a 444 km de Campo Grande. Apesar da distância, a fumaça já encobria o município brasileiro.
Na região de Corumbá, as queimadas se tornaram cada vez mais frequentes na região. Levantamento do Inpe mostrou que, somente no mês de março de 2012, foram 156 focos de incêndios, o que colocava a cidade na liderança nacional no ranking de queimadas.
Em agosto de 2012, as brigadas do Ibama/Prevfogo e o Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul passaram o mês combatendo as principais frentes de incêndio florestais que atingiam a região do pantanal sul-mato-grossense, destacando o município de Curumbá; recordista em focos de calor no Brasil, com 1698 focos registrados até 09 de agosto de 2012 no ano. Os incêndios na região do Pantanal estão entre os mais difíceis de serem extintos, devido à presença de frentes subterrâneas e à dificuldade de deslocamento em terreno alagado.
Em 20 de março de 2013, durante reunião entre integrantes do Poder Executivo Municipal e parceiros, no Centro de Convenções Miguel Goméz, foi debatida a ativação do Comitê Municipal de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais no Pantanal de Corumbá. A ideia era envolver os mais diferentes segmentos e definir responsabilidades para a implementação e execução de políticas públicas para prevenção, monitoramento, controle e combate a incêndios florestais que venham a ocorrer na região.

LEVANTAMENTO DOS FOCOS
Para o levantamento dos focos de calor foi utilizada a plataforma “Queimadas” do, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esta plataforma inclui o monitoramento operacional de focos de queimadas e de incêndios florestais detectados por satélites, e o cálculo e previsão do risco de fogo da vegetação. Para o bioma Pantanal foram observados os dados de focos de incêndios no período do dia 01 de dezembro de 2013 até o dia 02 de dezembro de 2014. Ao todo, foram identificados 9.492 focos, sendo 4.050 em Mato Grosso e 5.442 em Mato Grosso do Sul.
            Considerando a distribuição dos focos de incêndios, ate o momento no ano de 2014 em todos os biomas brasileiros (Figura 1), a Amazônia destaca-se, com 44,4% dos focos de incêndio seguido pelo Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e finalmente o Pantanal com apenas 1% do número de focos no país. 



Figura 1: Distribuição dos focos de incêndio nos biomas brasileiros no ano de 2014 (Fonte: INPE, 2014).


Mesmo não tendo um número representativo no cenário nacional, os números do bioma Pantanal são preocupantes. Através da Figura 2A é possível perceber que a distribuição dos focos ocorre por toda a extensão desse Bioma o que exerce impactos diretos na preservação. Mais preocupante ainda, são aqueles focos observados nas unidades de conservação presentes no Pantanal (Figura 2B).



Figura 2: Distribuição dos focos de incêndio nos pantanal (A) e nas unidades de conservação (B) no período de 01 de dezembro de 2013 até o dia 02 de dezembro de 2014 (Fonte: INPE, 2014).

Saber da localização desses focos de incêndios nas Unidades de Conservação permite um zoneamento e planejamento das regiões prioritárias e quais UCs e municípios necessitarão de maiores investimentos para a prevenção e controle de incêndios florestais. Também é possível destacar quais motivos estão levando a esses focos, já que em muitos desses casos, há a presença de comunidades ao entorno dessas UCs.
Na Figura 3 é apresentada a distribuição mensal dos focos levantados no período de estudo sendo possível destacar os meses mais críticos. Percebe-se que o maior número de focos ocorreu nos últimos meses do ano, intensificando-se a partir de agosto. No período observado, os meses de maior incidência de focos foram em Dezembro e Outubro. Este também é o período de estiagem e com menor umidade relativa. É importante conhecer estas informações, para se saber em que época deverão ser tomadas as ações de prevenção desses focos, minimizando os impactos das queimadas, que acabam por afetar na dinâmica desse Bioma. Essas mesmas precauções poderão amenizar os riscos às populações e a degradação ambiental. 



Figura 3: Distribuição dos focos de incêndios no período de 01 de dezembro de 2013 até o dia 02 de dezembro de 2014 mensalmente, no Bioma Pantanal. Os números acima das barras representam o número de focos naquele mês.



Figura 4: Histograma da média dos totais mensais precipitados na estação pluviométrica São João (Média de 1997 à 2006). Fonte: Marcuzzo et al., (2010).

Na figura 4, é apresentada a distribuição de chuvas durante o ano, destacando os meses de junho, julho e agosto como os meses do período seco, e os meses do verão com as maiores precipitações, sendo similares aos meses de maiores focos de incêndios. Entretanto destaca-se que existe um atraso de aproximadamente quatro meses entre o pico da cheia do norte e do sul do Pantanal (HARRIS et al., 2005), o que faz com que a estação seca vigore na porção norte do Pantanal enquanto o nível das águas atinge seu pico na porção sul. Os níveis da água no norte, em qualquer estação, são extremamente variáveis, subindo e descendo em resposta direta ao volume de chuvas. Os níveis da água no sul, por outro lado, aumentam e diminuem mais suavemente ao longo do ano, devido à retenção natural da inundação que amortece as flutuações causadas pelas chuvas intensas (HARRIS et al., 2005). O Pantanal também é caracterizado por uma variação plurianual da intensidade da inundação, alternando anos de elevada inundação com anos mais secos (HRRIS et al.., 2005).

CONCLUSÔES

Os incêndios florestais no pantanal ocorrem em grande número e concentram-se no período de estiagem.  A vegetação de gramíneas é propícia à pastagem e para o manejo destas, os proprietários utilizam a queima. Muitas vezes a queima foge do controle e se transforma em grandes incêndios florestais. É necessário elaborar um programa de orientação e conscientização dos proprietários rurais para diminuir a ocorrência de incêndios e aumentar a conservação dos recursos naturais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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