UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE
JANEIRO.
Instituto de Florestas – Departamento
de Silvicultura - IF231- Economia Florestal
(Trabalho da disciplina)
Avaliação
econômica comparativa de Projetos Florestais destinados a Serraria e Energia.
João Flávio Costa dos Santos
Resumo
Avaliar
economicamente um projeto requer conhecimento dos custos e receitas gerados
pelo empreendimento ao longo do seu tempo de duração. Critérios de avaliação
econômica como Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR),
Razão Receita Custo (R/C), Receita Líquida Periódica Equivalente (RLPE) e Custo
Médio de Produção (CmPr) verificam a viabilidade de projetos e auxiliam na
escolha do mais interessante em termos econômicos. Neste trabalho, dois projetos de empreendimentos florestais (um destinado à serraria e outro à energia) foram comparados quanto aos critérios econômicos. Concluiu-se que ambos os empreendimentos florestais, segundo o fluxo de caixa desta análise, são economicamente viáveis e
que o projeto serraria destacou-se por gerar mais lucro e em menos tempo.
Introdução
O
Setor Florestal Brasileiro tem significativa contribuição para a economia
nacional. Atualmente corresponde a 3,5% do PIB (IBGE, 2010), gera 640 mil
empregos diretos (ABRAF, 2011), receita de cerca de R$ 42 bilhões e suas
exportações equivalem a 3,4% do total exportado pelo país (SFB, 2012). Além disso, apresenta grande potencial de
crescimento. A exemplo disso tem-se os investimentos das empresas de base
florestal tanto na área industrial, ampliando suas capacidades instaladas,
quanto na compra de novas áreas para plantios de florestas e aquisição de
máquinas e equipamentos mais eficientes, buscando sempre a otimização do
processo produtivo, desde o plantio e manutenção, até a colheita e transporte
florestal. Tudo isso, com o intuito de redução de custos, pela economia de
escala (NOCE et al., 2005).
Conhecer
os custos de produção de qualquer atividade da economia assume importante papel
no processo de decisão do empresário e/ou administrador de determinado
empreendimento econômico (GRAÇA et al., 2000). A análise econômica de projetos
é uma ferramenta básica para determinar se o investimento deve ou
não ser implementado (REZENDE et al., 2006).
Os
projetos florestais se caracterizam pelo alto investimento inicial e longo
prazo, fato que torna-os mais arriscados que outros de menor tempo de duração. Ao optar por um investimento na área florestal, é
necessário muita convicção no que diz respeito às informações utilizadas, pois
um erro cometido poderá demandar muito tempo para ser corrigido (REZENDE et al., 1983). Conforme Graça
(2000), na atividade florestal, qualquer análise financeira requer que,
primeiramente os custos sejam apurados e depois dessa contabilização, sejam
devidamente descontados para uma mesma base, podendo ser para o presente,
através do valor presente, ou para o futuro, através do valor futuro.
O objetivo
deste trabalho foi verificar a viabilidade econômica e comparar dois
projetos de base florestal através dos custos e receitas da produção de madeira para Serraria e Energia.
Material
e Métodos
Os
dados de custos e receitas referem-se a empreendimentos florestais em Minas
Gerais. Para avaliação do projeto de madeira para serraria considerou-se o
híbrido Eucalyptus urophylla
X E. grandis com uma densidade de 1600 pés/ha (espaçamento 3X2 m), desbastes
realizados aos 5 e 9 anos, corte final aos 12 anos e as respectivas produções
de 80, 70 e 200 m³/ha. Para produção de madeira com fins energéticos
considerou-se 3 cortes, aos 6, 12 e 18 anos, com respectivas produções
esperadas de 300, 270 e 250 m³/ha. O Horizonte de Planejamento (HP), ou seja,
tempo no qual o capital será investido, é, portanto, de 12 anos para o projeto
de madeira para serraria e de 18 anos para a madeira para energia.
Como
regra geral, todo critério de avaliação de projetos deve estar fundamentado no conceito
de capitalização composta dos juros. O estudo econômico deste trabalho envolveu
o cálculo do Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Razão
Receita Custo (R/C), Receita Líquida Periódica Equivalente (RLPE) e Custo Médio
de Produção (CmPr).
Neste trabalho, foi considerada uma taxa de juros anual de 10% e
taxa mínima de atratividade (TMA) de 10%. A TMA é a
taxa mínima de juros que uma proposta de investimento deve oferecer para que o
projeto de investimento seja atrativo. O investidor estabelece a sua taxa
mínima de retorno para que determinado investimento seja atrativo, em
detrimento de não realizar outros projetos. Nos investimentos florestais existe uma grande dúvida,
quanto à escolha e utilização da taxa de juros ou taxa de desconto ou taxa
mínima de atratividade (REZENDE, 1983). Na literatura florestal
brasileira, observam-se taxas reais de juros entre 6 a 12% ao ano. Dentre os fatores que
podem interferir na determinação da taxa de juros citam-se: risco e incerteza,
inflação, duração do projeto ou horizonte de planejamento, preferência por
liquidez, produtividade do capital e a posição particular do investidor (NOCE
et al.,2005).
Análise de sensibilidade
Esse tipo de estudo mostra o quanto os projetos são afetados pela
variação da taxa de juros, possibilitando até identificar graficamente uma
aproximação da taxa de juros que marca a interface entre os intervalos de taxas
de juros que determinam a viabilidade ou inviabilidade de projetos, ou seja,
uma aproximação da TIR (VITALE & MIRANDA, 2010).
Neste trabalho, procedeu-se uma simulação de valor para taxas de
1, 10, 20, 30, 40 e 50% ao ano, para comparar o comportamento de VPL
dos dois empreendimentos, e com os resultados foi gerado um gráfico para
avaliar cada projeto em estudo. Utilizou-se uma planilha eletrônica para o cálculo do VPL. Assim, pode ser testada a mudança dessa taxa afetando o
valor do VPL.
Critérios econômicos de decisão
Todos
os critérios utilizados consideram a variação do capital no tempo, ou seja,
consideram como o fluxo de caixa do projeto varia ao longo do horizonte de
planejamento. Os fluxos de caixa representam as estimativas de entradas
(receitas) e saídas (despesas) de recursos monetários em um determinado projeto
produtivo, ao longo do tempo. O resultado líquido desses fluxos pode ser
calculado subtraindo-se das receitas as despesas e assume-se que quanto maior
for o lucro, melhor será o projeto, pelo menos no que tange ao critério
viabilidade econômica.
O VPL
calcula o valor líquido (receitas menos custos) atual de um fluxo de caixa
futuro:
VPL = VPR- VPC
VPL- Valor Presente Líquido; VPR- Valor Presente das Receitas; VPC- Valor Presente dos Custos.
VPR = ∑R0
∑R0 – é o somatório das receitas no tempo presente, isto é descapitalizada.
VPC = ∑C0
∑C0 – é o somatório dos custos no tempo presente, isto é descapitalizado.
Para realizar a
descapitalização das Receitas (R) ou Custos (C), ou seja, saber qual o valor no
dia de hoje, utilizamos a seguinte equação:
Vo- Valor
no tempo atual; Vm- valor gerado no tempo n; i- taxa de juros; n- unidades de
tempo
Vo- Valor
no tempo atual; Vm- valor gerado no tempo n; i- taxa de juros; n- unidades de
tempo; t- fator de correção entre n e i.
Regra
de Decisão: Projetos
são economicamente viáveis quando VPL é maior que zero e, comparando projetos,
aquele que apresentar maior valor de VLP será o mais atrativo.
A TIR
refere-se à taxa de juros compostos que iguala o VPL a Zero. Ou seja, é a taxa
de juros que iguala o valor presente das receitas ao valor presente dos custos.
Ela indica quanto o projeto está rendendo internamente, isto é, quanto o
projeto é viável economicamente. Os Valores de TIR podem ser obtidos pelo
método visual, por tentativas e erros e por softwares
especializados. No método visual a TIR é determinada no ponto em que a curva
corta o eixo das abscissas (X).
Regra
de Decisão:
Aceitam-se os investimentos que apresentem TIR maior do que o mínimo aceitável
como taxa de retorno ou Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Na escolha entre
mais de duas alternativas de investimento, a princípio, deve-se optar pela de
maior TIR, mas este critério não pode ser analisado isoladamente.
A Razão
Receita Custo (R/C) é obtida dividindo-se o valor presente das receitas pelo
valor presente dos custos.
R/C-
Razão Receita Custo; VPR- Valor Presente das Receitas; VPC- Valor Presente dos Custos.
Regra
de Decisão: Aceita-se
o projeto cuja razão R/C seja maior do que 1. Na escolha entre mais de duas
alternativas, deve-se optar pelo projeto de maior razão R/C.
A Receita
Líquida Periódica Equivalente (RLPE), também chamada de Benefício Líquido Periódico
Permanente, indica a receita em intervalos de tempo iguais ao longo do
horizonte de planejamento. Por exemplo, transforma o
Valor Presente Líquido em um fluxo anual e constante de receitas/custos.
Também conhecido como Valor Líquido Presente Anualizado, pode ser visto como a
quantia anual que pagará, dentro do horizonte de tempo considerado, exatamente
o valor líquido presente do fluxo de caixa. Este critério é útil na comparação
de investimentos que produzam retornos periódicos (p. ex., culturas florestais)
com investimentos que produzam retornos anuais (p. ex., culturas agrícolas). É
também útil na comparação de investimentos com horizontes planejamento
diferentes. A obtenção de uma anualidade torna o ano (ou período de
capitalização utilizado) a unidade de tempo comum aos projetos que estejam
sendo comparados. O cálculo exige que primeiro se obtenha o VLP, que por sua
vez será usado na seguinte fórmula:
RLPE- Receita Líquida Periódica Equivalente; VPL- Valor
Presente Líquido; i- taxa de juros; n- unidades de tempo; t- fator de correção
entre n e i.
O Custo Médio de Produção é um
critério de avaliação de projetos que considera o quanto custa produzir uma
unidade do produto. Consiste em dividir o valor atual do custo pela produção
total equivalente (R$/m³).
CmPr- Custo médio de produção; Ve- Volume equivalente;
VPC- Valor Presente dos Custos.
A Produção equivalente (m³) é o
somatório das quantidades produzidas em cada período, descapitalizadas para o
período zero (tempo atual), considerando-se a taxa de juros, segundo a fórmula:
Ve- Volume equivalente; Vm- valor gerado no tempo n; i- taxa de juros; n- unidades de tempo.
Regra de Decisão: Se o custo de produção é menor que o
custo de venda, o projeto é viável, uma vez que há retorno financeiro.
Resultados e Discussões
Os valores dos critérios de avaliação
econômica são apresentados na tabela 01. A memória dos cálculos segue em anexo.
Tabela
01. Valores
de critérios de avaliação econômica para plantios florestais destinados a
serraria e energia.
Critério
|
Serraria
“Projeto
A”
|
Energia
“Projeto
B”
|
VPL
|
336,45
|
322,18
|
TIR
|
10,6
|
10,8
|
R/C
|
1,028
|
1,022
|
RLPE
|
49,38
|
39,28
|
CmPr
|
84,61
|
48,93
|
VLP- Valor
Presente Líquido; TIR- Taxa Interna de Retorno; R/C- Razão Receita Custo; RLPE-
Receita Líquida Periódica Equivalente; CmPr- Custo Médio de Produção.
Para a taxa de juros de 10% a.a. ambos
os projetos são viáveis (VPL>0, TIR >TMA, R/C>1, RLPE>0 e CmPr
inferior ao preço de venda) . O empreendimento serraria é o mais atrativo, pois
gera R$ 14,00/ha a mais de lucro e em menos tempo (12 anos) que o
projeto B. Caso o empreendimento destinado a energia apresentasse os melhores
valores, seria necessário calcular a VLP infinita, e deste modo igualar os
horizontes de planejamento dos dois projetos, para afirmar qual seria mais
viável.
Quanto ao valor de TIR podemos
perceber, através da figura 01, que o projeto Serraria é mais sensível, sendo
viável até uma taxa de 10,6%. Qualquer taxa de juros acima desta torna o
projeto inviável economicamente, isto é, será mais viável investir em outra
opção. Comparativamente, é possível concluir que o empreendimento Energia
tolera uma taxa de juros um pouco maior (TIR=10,8%).
Figura 01. Taxa interna de retorno para os
projetos Serraria e Energia, obtidas pelo método gráfico.
O valor calculado R/C representa a
rentabilidade proporcionada pelo investimento, ou seja, representa o número de
unidades monetárias retornadas para cada unidade monetária investida, já corrigida
pela taxa de juros (VITALE & MIRANDA, 2010). Pelo critério da Razão Receita
Custos é possível concluir que o projeto serraria gera 2,8% de lucro e para
energia 2,2% de lucro.
Considerando
a Receita Líquida Presente Anual o projeto serraria gera receita de R$ 10,00/ha/ano a mais em relação ao projeto
destinado a energia. A partir do valor de CmPr defini-se que não se deve vender
a madeira por preço inferior a R$ 84,62 para madeira para serraria e R$ 48,93
para energia.
A
TIR e CmPr nem sempre vão mostrar a opção mais rentável, sendo assim deve ser dada
maior importância ao VLP ao RLPE e a Razão Receita Custos.
Análise de sensibilidade
O
VLP é muito sensível às mudanças na taxa de juros e muitas vezes a mudança de
uma unidade na taxa pode tornar o projeto inviável. Em projetos florestais a
taxa de juros utilizada para definir sua viabilidade varia de 5 a 15% pois
dificilmente haverá opção de investimento superior a esta.
Rezende & Oliveira
(2001) mostram que a relação entre a taxa de juros e o VPL é inversa, ou seja,
quanto maior a taxa de juros, menor o VPL e vice-versa. Analisando
os resultados, a partir da figura 02, percebemos que à medida que a taxa de
juros aumenta, o VPL de ambos os projetos diminui, implicando na redução de
atratividade pelos mesmos. O projeto serraria apresenta uma sensibilidade
ligeiramente maior à alteração na taxa de juros, pois tem maior queda em VLP
para uma mesma alteração na taxa de juros dos dois projetos.
Figura 02. Comportamento de VPL frente diferentes taxas de juros.
Conclusões
Comparando os dois projetos florestais
através dos critérios econômicos, concluiu-se que os empreendimentos florestais
destinados a serraria e energia, segundo o fluxo de caixa desta análise, são
economicamente viáveis. O projeto serraria é o mais viável por gerar mais lucro
e em menos tempo.
Referências
Associação
Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF). 2011. Anuário Estatístico da ABRAF 2011 – ano
base 2010. Brasília, DF.
SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO: Brasil Com Florestas: Oportunidades para o desenvolvimento de uma
economia florestal e a reestruturação necessária do setor. Brasília, março
de 2012.
REZENDE,
J.L.P.; PADUA, C.T.J, OlLIVEIRA, A.D. & SCOLFORO, J.R.S.: Análise econômica de fomento florestal com
eucalipto no estado de Minas Gerais. Revista Cerne, Lavras, v. 12, n. 3, p. 221-231, jul./set. 2006
GRAÇA,
L.R; RODIGHERI, H.R. & DE CONTO, A.J.:Custo
Florestais de Produção:Conceituação e Aplicação. Embrapa Florestas.
Documentos 50. Colombo,2000.
REZENDE,
J. L. P.; OLIVEIRA, A. D. Análise econômica e social de projetos florestais.
Viçosa: UFV, 2001. 398 p.
REZENDE,
J.L.P.; BARROS, A.A.A.; OLIVEIRA, A.D. Tratamento da inflação nos programas de
investimentos florestais. R. Árv., 7(1): 44-55, 1983.
VITALE,
V.; MIRANDA, G. de M. Análise
Comparativa da Viabilidade Econômica de Plantios de Pinus taeda e Eucalyptus
dunnii na Região Centro Sul do Paraná. FLORESTA, Curitiba, PR, v. 40, n. 3, p. 469-476, jul./set. 2010.
NOCE,
R. et al. Análise de risco e retorno do
setor florestal: produtos da madeira. Revista árvore, v.29, n.1, p.77-84,
2005
http://portalflorestal.blogspot.com.br/
ResponderExcluirConhece o portal florestal? E parecido com seu blog,também é feito por um estudante de floresta.
Vcs deveriam fazem parceria ,seria ótimo para os dois blog.
Oi, Muito obrigado pela dica. Vou entrar em contato com o moderador, ia ser bem legal mesmo. Abraço!
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